Nem sequer estou hoje particularmente bem disposto. Passei por uma das empresas onde facturo boa parte do meu salário médio e vi uma página A4 pendurada por cima do relógio de ponto das instalações fabris. Dizia por lá, que o José Gonçalves iria substituir António Castanheira e que a sua função principal seria a de organizar a produção.
Estamos a falar de um universo na ordem das 300 pessoas. Sector industrial: construção metálica. Quadros superiores e intermédios na ordem de 10% do pessoal.
Falei com Gonçalves, desejei-lhe boas vindas, perguntei coisas sobre o trajecto profissional & etc. coisa e tal. Fiquei pensativo, a tentar perceber que raio de ideia era aquela, a do «dono», administrador de empresa, ir buscar um “encarregado” a uma empresa concorrente mais pequena e trazer o «nosso homem» para – diz no papel – organizar a produção.
Fiquei curioso, desejoso de assaltar o carro deste administrador de empresa e perscrutar a agenda, a sua agenda, onde ele seguramente anota o futuro da sua empresa, pior do que isso, o futuro daquelas 300 pessoas.
Desanimado, dei meia volta e vim sentar-me numa esplanada junto à praia de Francelos. Voltei a ligar o HP/Compaq e regressei às notícias da IBM, que recebo sem ser via Blogs; ou seja há vida para além dos Blogs.
Tenho sempre muita vaidade em fazer gala de que sou um produto IBM. Foi o meu primeiro trabalho. Aprendi muito, sobretudo aprendi a aprender. Se há coisa de que guardo eterno amor à IBM é por esta ideia sã de que todos os dias são bons para novas ideias, nova partida e nova viagem.
IBM é única sobrevivente de todas as gloriosas malucas dos computadores da primeira e segunda geração. Não é por acaso! A IBM sempre teve agenda actualizada e com escrita muito para além do dia-a-dia do calendário.
Na IBM usa-se falar directamente às massas populares. Os 8 laboratórios de investigação localizados em países que incluem China, Índia, e Israel, são locais de trabalho para 3200 investigadores e receberam recentemente a visita do «dono» dos projectos de I&D. Foi lá, explicar quer em auditório, quer em entrevistas mais restritas, que a IBM tem quatro áreas de projectos a longo prazo (20 ou mais anos…) com orçamento relativamente equilibrado com o de outras áreas de projectos a curto prazo (um ou dois anos…). Disse mais, disse que isto tudo tem de ser feito em diálogo permanente com a opinião experiente dos seus criativos e investigadores.
A IBM também percebeu que a investigação globalizante não tem a ver com mais construção, mais tijolo nem mais argamassa. A IBM quer mais agilidade. Há um mercado de investigação e aí, a IBM inventou os “collaboratories”, centros que beneficiam dos recursos das universidades, empresas, e de países, para fazer face a problemas específicos de cada sector. Por exemplo, em vez de atacar problemas de transporte, típicos dos E.U.A., onde a infra-estrutura está em linha com o crescimento, a IBM concentrar-se-á num país, numa cidade, e numa área onde o tráfego rodoviário é de facto, um grande problema, como Bombaim.
A proposta de racionalização irá significar uma mudança significativa para muitos dos investigadores − com um risco real de que alguns poderão ficar marginalizados, se os seus projectos não estiverem entre as primeiras quatro áreas prioritárias. Para obter trabalhadores, em especial aqueles que estarão envolvidos em papéis criativos, e fazer com que estes abracem uma nova agenda de inovação, é preciso ter a certeza de que garantimos a sua entrada em cada etapa do processo inovador.
Como convencer uma equipa global de 3200 cientistas e investigadores − grupo criativo e opinativo − a deslocar-se para um novo rumo com a nova agenda? Em primeiro lugar, não se fazem, nem se tomam decisões precipitadas. A outra coisa importante é separar a palavra “criatividade” da palavra “inovação”. Veja-se isso como dois lados da mesma moeda.
“A criatividade é um processo que resolve um problema, e a inovação é o resultado da criatividade. É o produto ou a solução de trabalho.”
Na IBM, os tipos criativos dão atenção especial à satisfação intrínseca obtida com o seu trabalho. Eles vêm o trabalho como um fim em si mesmo e fazem aquelas coisas com amor, procurando trabalhar em projectos criativos, porque isso é interessante, estimulante, e desafiador para cada um deles. “A Google reconhece isso claramente, insistindo no facto das pessoas passarem 20% do seu tempo a trabalhar em projectos inovadores de sua própria escolha”.
“As pessoas criativas normalmente têm uma capacidade incomum para a auto-aprendizagem, e não gostam de ser chefiadas ou controladas.”
Pessoas criativas também são auto-motivadas. Isto pode causar desafios para os gestores, que têm necessidade de proporcionar um ambiente em que esses trabalhadores possam florescer, em seguida, devem sair do seu caminho por medo de que a transparência na tentativa de “motivação” seja derrubada por ser intrusiva, ineficaz, e insultuosa.
A conversa já vai longa.
Sinto-me melhor, após esta hora bem passada a rever empresas com futuro, até porque são empresas que possuem Agenda!