Por ser muito velho, possuo um armazém de histórias vividas que vai-não-volta voltam sempre ao local do crime. Em determinada fase de vida (jovem), entrava ensonado e atrasado, cada manhã, na empresa (holandesa) assoberbada por problemas diários que os seus clientes incultos lhe traziam em revoadas. Era certo e sabido que durante os primeiros cafés, remoía silencioso e ‘encravado’ os bitaites que os meus amigos, colegas e camaradas trocavam entre si e o «chefe», distribuindo problemas e soluções avulso.
Até que, seleccionava aquilo que me parecia o «big prego» em que o chefe estava encalhado e, com mais ou menos entusiasmo, lá ditava para a acta mais uma brilhante ideia alexandrina.
O «chefe» ouvia os meus fados com algum enfado, olhava para o tecto, mexia-se na cadeira, trocava papéis da esquerda com outros da direita e resmungava invariavelmente:
– Não sei Alex. Não sei se isso dará resultado.
Com o andar dos tempos, cedo me apercebi que aquilo queria dizer para eu ir rapidamente fazer outra coisa & etc. coisa e tal.
Cada vez que esta história se repetia, o final feliz também era quase sempre o do costume. Na manhã seguinte, o «chefe» quase se precipitava para a minha entrada, alvoroçado, chamando-me afectuosa e nervosamente para o seu espaço reservado.
– Alex! Esta noite estive a pensar naquele caso do «big prego» e tive uma ideia: Escuta lá!
E eu escutava, embevecido, vaidoso, porque aquela ideia era minha, mas o «chefe» entendia por bem explicar melhor o seu conteúdo, mais ainda, o seu alcance.
Sempre gostei muito mais das ideias roubadas do que aquelas a quem ninguém passava cartão.